Velório, por Victor Leandro

-Só temos duas horas.
-Assim disseram.
-Quem vem?
-Todos, ou quase.
-Não podem ser muitos.
-Mas ele era conhecido.
-Eu sei. Mas não queria. Já basta que tenha passado por isso.
-É inevitável.
-Bem, Luísa não virá.
-Por quê?
-Parece que brigaram uma semana antes.
-Muito barulho.
-São os outros.
-Quantos mais?
-Perderam a conta.
-Achei que já não estivesse assim.
-Está pior. Você só se esqueceu de ver as notícias.
Chegam os demais.
-Não podemos abraçar.
-Ah, sim.
-Eu sinto muito.
-Onde é o banheiro?
-Mais tarde vou ao Gil.
-Ficou entubado?
-Era novo ainda.
-Amanhã tem aula.
-Muito quente aqui.
-Ainda não liberaram a via.
-Ninguém quer mais trabalhar.
-É a vida.
-Chegou o pastor?
-Ele não era religioso.
- E o padre?
-Talvez venha.
-Já está no tempo.
-Mas ninguém tirou fotos.
-Falta a imprensa.
-Quando abre o salão?
-Só vim porque ela não vinha.
-Sempre dá para ir ao enterro de quem não gosto.
-Foi a vontade de deus.
-Melhor andar o cortejo.
-Nada de política.
-Amanhã já está normal.
-Passei na prova!
-Precisamos fazer uma live.
-Sorria!