Pequeno passeio matinal na galeria dos horrores ou O País, por Victor Leandro
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A janela aberta, mas nada que ultrapassa a vista turva. Estamos no Norte esquecido.
Os carros amontoam-se nos postos. Fazem aglomeração e barulho. O vírus lhes é uma piada que contam entrementes. Apoteose do empirismo obtuso. O que não se vê, não existe.
Nos jornais, chegam notícias de corpos somados aos dez mil. E luto oficial decretado nos poderes. Menos um. O suposto presidente passeia de jet ski.
Também o desespero na porta dos centros médicos. Nas narrativas contadas, acumulam-se despedidas repentinas e incompletas. A doença é tão real que alcança os mais escondidos.
Mas não é o que dizem os que se encontram tomados pela febre fascista. Em suas mentes deturpadas, apenas um golpe pode trazer a cura. Assim, adoecem mais todos ao redor. A estupidez política é o mais fundo necrotério da nação. Contudo, pouco ou nada se fará contra ela, a julgar pela inércia dos opositores.
Enquanto isso, nas esquinas contíguas, seguem os mesmos sujeitos a propagar os mesmos ressentimentos, as mesmas culpas, as mesmas ideias minoradas e interesses estanques. Nenhum progresso notado na vivência comum. Quem era ainda é, quem não era não vai vir a ser. A humanidade segue seu ritmo deprimente, suportado por doses cada vez mais altas de ansiolíticos.
Isso basta. Já não há mais nada o que ver.
A janela se fecha.
Abre-se o silêncio.