Pandelive, por Victor Leandro

Apoteose do virtual. O mundo não é mais do que uma tela num aplicativo.
Não que algo não passe sendo assim. Porém, a acriticidade destrói qualquer prolífico caminho. O que chega, então, é uma forma opaca, vazia e desgastada, que nada faz do que cumprir diligentemente o rito de proliferação do tecnomundo.
Enquanto isso, dentro das casas, o mal-estar prossegue. Todos permanecem tristes e sozinhos. Mesmo diante do vídeo, sentem sempre que algo lhes falta, e que mesmo a profundidade de alguns debates carece de substância. Um escrito, provavelmente, seria mais incisivo. O deserto do real é muito difícil de esconder.
Mas os entusiastas prosseguem. Exaltam esse grande momento. Dizem que ele veio para ficar, e que agora os povos estão aproximados. Nenhuma comunidade mais poderá dizer-se isolada. Todos juntos graças às maravilhas da tecnologia.
Contudo, novamente, a sensação geral é outra. As pessoas já nem ligam mais seus aparelhos. O que elas querem é poderem livrar-se deles com longos caminhos.
A pandelive é um sonho, uma fantasia high-tech, que desvanecerá tão logo chegue o dia. Pouco ou nada restará dela se as coisas voltarem minimamente a ser como antes. O real, mesmo debilitado, segue sendo o único rumo.
Virtual por virtual, melhor reabrimos nossos livros.