O que é normal, por Victor Leandro

Diante da destruição sistemática do Brasil em diversos âmbitos, um dos argumentos mais utilizados para tentar deter tais processos deletérios é o de negar a normalização dos mesmos, atentando para o caráter excepcional de sua manifestação.
Contudo, embora seja pertinente em certo sentido, tal consideração não leva em conta o que seria de fato aquilo que podemos denominar normal, tomando-o como sinônimo de eticamente aceitável, desviando desse modo o sentido próprio de sua utilização.
O normal é sobretudo a norma, ou seja, o que está instituído como sendo válido num dado momento a um certo conjunto de indivíduos, e cuja forma de estabelecimento, dentro do estado de direito, costuma se dar através dos documentos legais. Contudo, esse não é o único meio a ser levado em conta, uma vez que os hábitos e as práticas corroboradas e assumidas são o que de fato definem o quadro efetivo da normalidade no real.
Segue daí que o normal não possui identidade com o moral, e sim com o que é seguido como regra. Na Alemanha nazista, era normal que negros e judeus fossem condenados aos campos de concentração. Não havia qualquer escândalo nisso. Ao contrário, era a resistência a essa prática que era vista como alarmante.
Na situação nacional em que nos encontramos, as sucessivas ações e discursos do não-governo, a despeito das garantias constitucionais, têm imposto como normas uma série de atos que antes nos chegavam como inadmissíveis, fazendo virar corriqueiro aquilo que era motivo de abominação. Dessa maneira, converteram-se em algo regulamentar agora eventos como:
-a destruição das florestas e da vida selvagem.
-o desemprego em alta escala.
-a negligência na saúde ao longo da pandemia.
-a fome e a miséria crescentes.
-a mentira oficial propagada e defendida.
Contra estes, pouco ou nada adianta atentar para seu caráter de exceção ética ou à lei. A rigor, eles estão normalizados pelos costumes, e devem se manter justamente pela estrita obediência às normas vigentes.
Desse modo, a única forma de combate ofensivo a essas regras
é pregando a anormalidade democrática. É somente numa ruptura estranha, de que
o corte revolucionário constitui o modelo único, que poderemos de fato mudar o
estado de coisas. Assim, diante do caos banalizado, é só na loucura da razão criadora-destruidora
que construiremos um outro mundo. Esta é uma insanidade que nunca foi tão
urgente.