Nas livrarias, por Victor Leandro

Sim, é verdade. Olhando no sítio eletrônico, podemos encontrar tudo o que queremos. Mas só numa livraria real é possível encontrar aquilo que não queremos, e de que no entanto precisávamos sem saber. E é esse acaso exultante que lhe dá todo o sentido.
Ou então, imaginemos a cena. Você está percorrendo a esmo as prateleiras, a fim de passar bem o tempo. O atendente pergunta se procura por algo. Você diz que sim. Ele interroga o que seria. E então você responde que não sabe, porém, quando encontrar, irá chama-lo imediatamente. Onde mais esse diálogo seria plausível? Não há outro espaço para interlocuções desse tipo.
Alguns dirão que é puro comércio, fetichidades intelectualistas. No fundo, trata-se apenas de uma loja de livros. Talvez estejam certos. Porém, o encontro que se dá ali é sempre transcendente. No conteúdo das obras, a mercadoria desaparece. Assim, entrar nelas é uma rota para outro reino de signos.
O comércio retorna temerário e inibe sorrisos. Entretanto,
ver uma livraria aberta num mundo obtuso como esse e no lugar e no momento em
que estamos é motivo de alegria. Por quanto tempo resistirão, nessa cultura
virtual e antilivresca? Esperamos que muito. Visitá-las é um dos poucos riscos
inúteis que ainda valem a pena.