A potência do cansaço, por Victor Leandro

No momento presente, a única coisa possível de ser dita a respeito da política nacional do país é que esta carece de novidade e conduz a um inevitável tédio. Onde quer que se olhe, encontra-se sempre a mesma imagem repleta de comentários oficiais estúpidos, extremismos patéticos e abandono da gestão do Estado, o que, somando-se à inércia das forças opositoras, torna a agitação social praticamente irrisória em torno de tais temas.
Contudo, olhando mais de perto, talvez não seja tão mal que as coisas estejam assim, posto que o que se esconde nelas é uma crítica importante às bobagens presidenciais. O recado das ruas é o de que ninguém suporta mais tanta besteira, e que se começa a pensar a fazer qualquer coisa para livrar-se de tais cenas ridículas.
Desse modo, o que desponta aí é a primeira fase de um movimento que pode ir bastante longe. Tal como o inseto zumbindo no quarto durante o sono, o que se procura tão só inicialmente é ignorá-lo para depois, quando se percebe que isso é impossível, partir para uma investida final contra ele. Assim, a tomar o curso desse tipo de acontecimento, o mais provável é que a calmaria ceda lugar a explosões furiosas fundadas no fastio.
Mas, poderá a esquerda ser capaz de direcionar esses
impulsos? Essa é a pergunta a ser feita. De qualquer forma, as eleições
municipais se avizinham, e em breve teremos uma resposta a respeito do que pode
a raiva daqueles que pretendem dormir. Essa é a força do cansaço. Esse é o
vaticínio do silêncio que antecede o surto.