A cura por decreto, por Victor Leandro

O estado adoece, os caixões se acumulam, os hospitais amontoam impotentes o desespero humano.
Contudo, numa estranha e sádica indiferença, o governo prepara a saída do isolamento.
Pior que isso, só algumas empresas do Distrito Industrial, que retomaram as atividades, alegando que o retorno já estava programado, como se fosse possível hoje programar alguma coisa.
Para os gestores públicos em curso, o comércio estará pronto para ser reativado em quinze dias. Será uma reabertura gradativa, como gradativa provavelmente será a segunda onda do vírus caso a proposta se concretize. Isso se é que realmente o pico da doença terá passado nesse meio tempo.
Para os profissionais da saúde, a medida deve soar como uma piada de humor mórbido. Para a população mais esclarecida, uma audácia falaciosa e cheia de perigos. Entretanto, parece que a contrariedade desses grupos não conta muito. O que importa é se os empresários sorriem.
Mas, quem sabe os papeis sejam capazes de maravilhas, de mudar o mundo com sua tinta, de fazer prosperar sua imensa vontade sobre um quadro epidemiológico absolutamente incerto?
Nada de esperar vacina. O governo promove a cura por decreto.